CIDADE

Secretário diz que população deve ajudar a fiscalizar os ônibus do Rio

Picciani afirma que os usuários do sistema devem cobrar conduta correta.

Em 17/02/2016 Referência JCC

O secretário municipal de Transportes, Rafael Picciani, comentou os flagrantes de irregularidades no exercício de dupla função dos motoristas de ônibus, que dirigem e dão o troco, que foram exibidos no RJTV. Em entrevista ao Bom dia Rio, Rafael Picciani, afirmou que a população da cidade precisa conhecer as regras do transporte público e denunciar as irregularidades para que os responsáveis sejam punidos.

“Teria que ter um fiscal por ônibus na cidade do Rio, oito mil ônibus na cidade, que andam 24 horas por dia se a gente contasse apenas com a ação do poder público para sanar essa questão. Nós temos desenvolvido desde 2010 instrumentos para fiscalizar. É importante a população saber, conhecer a regra, saber o que o motorista não pode fazer, para que ela mesma cobre também do motorista esta postura”, afirmou Rafael Picciani.

Por lei, os condutores só podem receber e dar o dinheiro com os veículos parados. Na prática, no entanto, poucos respeitam essa norma: de 30 motoristas gravados, em 20 linhas diferentes, só seis seguiram as normas.

Crime
Na linha 309, que liga a Alvorada, na Barra, à Central do Brasil, o problema encontrado pela reportagem era ainda maior. A equipe flagrou um homem sentado em cima do capô do motor do ônibus acaba trabalhando como trocador. Ele mesmo abre a caixa de dinheiro e dá o troco. Ele usa um cartão Riocard para liberar a roleta e fica com o dinheiro. E a passagem, na prática, é paga com recurso público. Sobre o caso, o secretário afirmou que a responsabilidade, neste caso, é criminal.

“A fraude é um caso de polícia. O que nós estamos assistindo é uma denúncia criminal, ela extrapola uma medida administrativa da Secretaria ou da Prefeitura do Rio. A fiscalização demonstra quantos passageiros embarcaram usando o cartão, mas volto a dizer: esse caso é grave e ele é uma violação legal. Esse é um caso onde a população deveria não só chamar o fiscal, mas também a polícia”, explicou Picciani.

Dupla função
Cinco ações na Justiça do Trabalho tentam acabar com a dupla função, mas ela continua sendo permitida, desde que algumas regras sejam respeitadas. Depende, por exemplo, do número de lugares nos ônibus e da porcentagem de passageiros que pagam em dinheiro. Ela não pode ser maior do que 30%. Ou seja, o motorista só pode ser também cobrador nas linhas em que pelo menos 70% dos pagamentos são feitos eletronicamente.

Pelas contas da Secretaria Municipal de Transportes e do sindicato das empresas de ônibus, hoje, 80% dos passageiros usam Riocard, Bilhete Único, vale-transporte ou têm direito à gratuidade.

Um motorista, que preferiu não ser identificado, trabalha numa linha entre o Centro e a Barra da Tijuca, com dupla função. Ele afirma que a realidade é bem diferente dos dados divulgados.

“Poucas pessoas têm cartão. Eu carreguei hoje 600 passageiros hoje. De 600 passageiros, numa roleta deu 200 vale-transportes. Na outra, deu cento e poucos vale-transporte. Quer dizer, eu levei mais dinheiro do que cartão. Todo o dia eu levo para a empresa R$ 500, R$ 700 em dinheiro. Entendeu?”, disse o condutor.

O motorista confessa que, muitas vezes, dá o troco com o ônibus em movimento.

“Eu continuo e aumento um pouco a velocidade, porque não há condições de você dar o troco parado, porque se for dar o troco parado, eu vou largar que horas?”, afirmou o motorista.

Ele diz que quando fica parado para cobrar a passagem, ouve queixas dos outros passageiros.  “Começam a reclamar que está atrasando a viagem. Entendeu? Aí fica reclamando que estão com pressa.”

O motorista também afirma que, se respeitasse sempre a lei, as viagens teriam o dobro da duração normal, e que a empresa não quer saber de horas extras. E o trânsito complica ainda mais a situação, na opinião do presidente do Sindicato dos Rodoviários, José Carlos Sacramento.

“É difícil eu saber exatamente. Eu só sei que o Rio de Janeiro é um canteiro de obras. Trânsito caótico, que você vai fazer uma viagem daqui pra Anchieta é duas horas e meia, três horas, uma meia viagem. Quer dizer, isso tudo é estressante para o motorista. Esses engarrafamentos, que tem o dia a a dia. Eu sugiro, eu acho que quando acabar estas obras vai diminuir um pouco o estresse, o trânsito e esta correria do motorista cobrar e dirigir ou o carro em movimento cobrando”, disse Sacramento.

Fonte:G1