SAÚDE

Setembro Verde: entenda o diagnóstico de morte encefálica

O diagnóstico é feito com a realização de exames clínicos e complementares.

Em 14/09/2015 Referência JCC

Antes que uma doação de órgãos e tecidos para transplante possa ocorrer, é necessário comprovar que o potencial doador está em morte encefálica, ou seja, perdeu de forma definitiva e irreversível as funções cerebrais. Mas você sabe de que forma se obtém essa comprovação? A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) ressalta que o diagnóstico é feito com a realização de exames clínicos e complementares, num processo minucioso e cercado de cuidados.
 
Segundo a coordenadora da Central de Transplantes do Espírito Santo, Rosemery Erlacher, quando a equipe médica percebe que um paciente com lesão neurológica grave não responde a mais nenhum recurso terapêutico, a família é comunicada da suspeita de morte encefálica e informada de que serão realizados exames comprobatórios. “Somente após o diagnóstico de morte encefálica é que a equipe assistencial deve acolher os parentes do potencial doador numa entrevista familiar e oferecer a eles a oportunidade de doar os órgãos de seu ente querido”, enfatiza.
 
Conforme detalha o médico responsável técnico da Central de Transplantes do Espírito Santo, João de Siqueira Neto, o protocolo de morte encefálica não é aberto aleatoriamente, mas só quando a equipe médica suspeita que o cérebro do paciente parou de funcionar. De acordo com ele, a suspeita surge quando o paciente com lesão neurológica grave – como vítimas de traumatismo crânio-encefálico e acidente vascular cerebral, por exemplo – não responde positivamente a nenhum tratamento.
 
“Nesses casos, o paciente sempre está em coma, e na maioria das vezes induzido. Em algumas situações, pode estar em coma espontâneo ou já em morte encefálica”, comenta o responsável técnico da Central de Transplantes do Espírito Santo. A equipe médica retira então a sedação e espera até 24 horas – dependendo da medicação usada para induzir o coma – para verificar se o paciente apresentará alguma reação. 
 
Segundo João de Siqueira Neto, a sedação é usada para evitar que o paciente se movimente, sinta dor ou faça qualquer esforço respiratório que prejudique sua condição clínica. Ele diz que a pessoa fica como se estivesse num estado de sono profundo. Ao retirar a medicação, espera-se que ela acorde, mas se isso não acontece realizam-se exames clínicos para verificar se o paciente foi a óbito ou permanece vivo.
 
O médico explica que para obter o diagnóstico de morte encefálica é necessário realizar sete exames clínicos, entre eles testes que verificam se o paciente apresenta alguma reação de tosse, movimentação facial ou deglutição quando estimulado, se as pupilas reagem quando expostas à luz e se o corpo demonstra reação à dor. Ele ressalta que o último exame clínico feito é o teste de apneia. “Esse exame é o mais importante, pois vemos se o paciente faz algum movimento respiratório ao desconectá-lo da assistência ventilatória”, fundamenta.
 
João de Siqueira Neto ressalta que esses exames devem ser feitos em intervalos de tempo variáveis, próprios para determinadas faixas etárias. No caso de pacientes com idade acima de 02 anos, têm que ser realizados duas vezes, num intervalo mínimo de 6 horas, conforme preconiza o Conselho Federal de Medicina (CFM) na Resolução 1.480/97, que estabelece os critérios para diagnóstico de morte encefálica. 
 
Quando o resultado de todos os exames clínicos é positivo, deve ser feito um exame complementar, que pode ser um doppler transcraniano, um eletroencefalograma ou uma arteriografia. Esses exames, segundo o médico, podem ser feitos após a primeira bateria de exames clínicos, entre as duas baterias ou após a segunda. São exames que servem para verificar se existe fluxo sanguíneo no cérebro ou presença de alguma atividade elétrica ou metabólica na área cerebral.
 
“Os exames clínicos devem ser feitos por médicos diferentes, sendo um deles necessariamente um neurologista. A família do paciente pode, inclusive, indicar um médico conhecido dos familiares para acompanhar a realização dos exames”, esclarece o coordenador técnico da Central de Transplantes do Espírito Santo, acrescentando que, quando todos os exames são concluídos e se chega ao diagnóstico de morte encefálica, o horário do último exame realizado será o horário de óbito do paciente.
 
João de Siqueira Neto enfatiza que o quadro de morte encefálica é irreversível, pois sem o cérebro o corpo não responde a nada, ainda que o coração continue batendo. Por isso, segundo ele, é um equívoco dizer que alguém acordou depois de receber diagnóstico de morte encefálica. “O estado de coma é diferente da morte encefálica. Ao contrário de quando o cérebro para, no coma existe fluxo sanguíneo na área cerebral, que é o que determina que a pessoa está viva. O paciente pode até acordar e não mexer nenhuma parte do corpo, mas ele está vivo”, explica o coordenador técnico da Central de Transplantes do ES.
 
Ele enfatiza que rumores dessa natureza tratam, na verdade, de casos de pacientes que estavam sob suspeita de morte encefálica, iniciaram os exames clínicos para comprovação do óbito, mas algum teste da primeira bateria de exames clínicos deu negativo. Nessas situações, interrompe-se o protocolo, pois o paciente está vivo.
 
Fonte: SECOM/ES