CIDADE

SP irá expandir programa de ajuda a usuários do crack para mais 6 bairros.

Programa "De Braços Abertos" será estendido em junho, diz secretária.

Em 21/05/2015 Referência JCC

A Prefeitura de São Paulo irá expandir o programa social “De Braços Abertos” e passará a oferecer auxílio aos usuários de drogas de todas as regiões da cidade a partir do início do segundo semestre deste ano, segundo informação exclusiva obtida pelo G1. Atualmente, o programa é restrito a região da Cracolândia, no Centro da capital paulista, e será estendido para seis bairros que também têm concentração de usuários de crack.

O programa foi criado em janeiro de 2014 e oferece aos usuários de crack uma remuneração de R$ 15 por dia de trabalho em atividades de zeladoria, capacitação profissional, três alimentações diárias e vagas em hotéis da região da Cracolândia. No entanto, no início, não será ofertado serviço em troca de remuneração e moradia nesta fase da expansão nas regiões periféricas. Primeiro, haverá atendimento social e de saúde aos dependentes e, depois, atividades como zeladoria serão implementadas.

O Braços Abertos irá para os bairros de Santana (Zona Norte), M'Boi Mirim, Santo Amaro e Vila Mariana (Zona Sul), Cidade Tiradentes (Zona Leste) e Vila Leopoldina (Zona Oeste). Na Vila Leopoldina, a nova Cracolândia está localizada no entorno da Ceagesp, maior entreposto comercial da América Latina.

“Nós temos uma programação de começarmos o programa ‘De Braços Abertos’ em mais seis áreas de São Paulo. Nós fizemos um convênio com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), que está financiando essa expansão do programa”, afirmou Luciana Temer, secretaria municipal de Assistência Social e Desenvolvimento.

“Quando a gente fala que vai ter o ‘De Braços Abertos’ significa que vai ter uma equipe só da assistência e da saúde naquele território concentrada para atender aquelas pessoas. É um esforço concentrado para entender aquela situação e minimizar os danos não só para cidade, mas principalmente para quem faz uso da droga”, completou.

Desde que foi implantado, em janeiro do ano passado, o programa já atendeu 798 dependentes químicos. Desses, 344 deixaram o Braços Abertos. Ou seja, de cada dez participantes, 4 abandonaram o programa.

Além dos atuais 454 adultos inseridos no programa, há 40 crianças acolhidas nos hotéis que são filhos dos beneficiários. Dos dependentes, 16 conseguiram emprego formal após 7 meses de programa.

Trailers
Nesta nova fase do programa serão instalados traillers adaptados nas outras quatro regiões de São Paulo. O edital para licitação dos trailers irá ficar pronta nos próximos dias. Após o lançamento do edital, o governo espera que eles estejam nas ruas e em pleno funcionamento em até 40 dias.

“A gente vai ter essa possibilidade de deslocamento. Até porque se a gente sentir que em uma região se esgotou o trabalho, a gente tem que passar para outra”, ressaltou Luciana sobre a ideia de mobilidade.

Para Luciana, os primeiros meses serão essenciais para identificar quem são os usuários que precisam de atendimento. “A gente quer fazer esse mesmo processo para identificar quais são as realidades locais, porque se você for para a Cidade Tiradentes você tem cenas de uso, mas as pessoas que estão lá tem um perfil distinto das pessoas que estavam na Luz”, disse. Na Cracolândia é comum ver os usuários são pessoas em situação de rua e é comum vê-los andando em conjunto como andarilhos.

Ela destacou que os dependentes podem ter familiares e ficar nas ruas somente durante parte do dia e por isso não há a necessidade inicial de inserção em hotéis. “Uma boa parte pode ter família e a gente pode trabalhar a vinculação com as famílias. Para cada território, a gente quer que a expansão do programa faça a vinculação, entenda quem é esse usuário e possa atendê-lo da melhor maneira possível sempre com um princípio de redução de danos”.

A secretária de Assistência não destaca a possibilidade de fazer convênios com hotéis nas novas regiões para acomodar os participantes do programa e destaca a importância da vinculação dos usuário com o poder público para mapear o problema na cidade. “Cada território tem uma característica. Eu acredito que de 4 a 5 meses nós teremos um diagnóstico do local pra entender se vai precisar de hotéis na região ou vou ter que abrir um acolhimento para abrigar essas pessoas.”

O repasse de recursos da União ao município será de R$ 6 milhões e será válido pelo período de um ano. Apesar do período restrito, a Prefeitura não tem intenção em suspender o programa após 12 meses e diz que é só um incentivo para iniciar a expansão.

Tumulto na Cracolândia

Criticado por alguns setores da sociedade que não concordam com o pagamento de salário e moradia aos dependentes, o programa da Prefeitura passou por momentos considerados de tensão, em que abordagens das polícias Civil, Militar e da Guarda Civil Metropolitana que resultaram em tumultos.

O último caso ocorreu no fim de abril, quando uma operação desmontava barracas usadas para o tráfico e consumo de drogas na região, teve início um tumulto e dois moradores de rua foram atingidos por estilhaços de um disparo feito por um policial militar sem farda.

De acordo com Luciana, o Brasil possui uma legislação restritiva em relação ao consumo de drogas. “Países que investiram fortemente na redução de danos como Holanda, como a Suíça, tiveram resultados muitos positivos. Acho que o Brasil ainda é um país que tem uma legislação muito restritiva”, disse. Questionada se era favorável a legalização do uso de drogas, como ocorre em países do exterior, ela preferiu não responder.

No entanto, ela destacou que o país tem uma política de drogas bastante repressiva. "Indiscutivelmente, você ter um política, não sei nem se é uma legislação, mas uma política que seja menos encarceradora e mais cuidadora é muito importante."

A Prefeitura promete usar o diálogo com a população que reside nas áreas que receberão os novos equipamentos.“Existe uma preocupação da sociedade em qualquer acolhimento seja da população em situação de rua e especial na questão da drogatização. A gente entende que as pessoas tenham uma preocupação, mas esse é um problema da cidade e a cidade tem que se corresponsabilizar, é um problema de todos nós. Não se pode fechar os olhos pra essa situação”, afirmou ela sobre reclamações.

A secretária compara o número dos abandonos às desistências de cursos de graduação da Universidade de São Paulo. "Eu não tenho dúvida que o programa é um sucesso. E eu falo isso pelo acompanhamento dos beneficiários que estão melhor e pela mudança no território", declarou.

Fonte: G1