POLÍTICA NACIONAL

Tia Eron critica colegas e compara demora de conselho a gestação.

Ela disse que homens da comissão não foram capazes de chegar a solução.

Em 14/06/2016 Referência JCC

Detentora do voto decisivo no processo de cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a deputada Tia Eron (PRB-SP) afirmou nesta terça-feira (14), no Conselho de Ética, que votará com a “consciência". Ela disse que é cobrada a resolver o "problema" que os “homens” do colegiado não solucionaram em nove meses de tramitação da representação que pede a cassação do presidente afastado da Câmara.

Ela ainda não declarou sua posição publicamente e se isolou nos últimos dias para evitar pressão de aliados e adversários de Cunha. Na última semana, ela não participou da reunião que tentou votar o parecer pela cassação e havia grande expectativa pela presença da parlamentar na reunião desta terça.

“Faz nove meses esse processo. Vocês como homens não entendem o que é dar a luz. Por isso, chamam: ‘Cadê Tia Eron para resolver o problema que os homens aqui não foram capazes de resolver’”, afirmou, sem adiantar se votará a favor ou contra o parecer do deputado Marcos Rogério (DEM-RO), que recomenda a perda do mandato de Cunha.

O placar no Conselho de Ética está apertado entre os que defendem que o peemedebista perca o mandato e os que são contrários a essa punição. Pelos cálculos de adversários de Cunha, se Tia Eron votar contra o relator, que pede a cassação, o placar deverá ficar em 11 votos a 9 a favor do presidente afastado. Essa hipótese leva à derrubada do parecer.

Se ela votar com o relator, o placar ficará empatado em 10 a 10, e o voto de minerva caberá ao presidente do conselho, José Carlos Araújo (PR-BA), que já disse ser a favor da cassação.

A votação prevista para a semana passada acabou sendo adiada para esta semana porque o relator pediu tempo para elaborar complementação de voto. O adiamento foi uma estratégia de adversários de Cunha, para ganhar tempo e tentar convencer Tia Eron a apoiar cassação.

A deputada passou o fim de semana na Bahia e não atendeu a telefonemas da imprensa. Aliados e adversários de Cunha dizem que não conseguiram entrar em contato com ela.

A deputada foi cobrada na reunião da semana passada pela ausência. Na ocasião, o deputado Nelson Marchezan Junior (PSDB-RS) questionou, por exemplo, se Tia Eron havia sido "abduzida".

Em discurso de dez minutos no Conselho de Ética, nesta terça, a deputada disse que o falecido pai do deputado do PSDB não teria feito tal "gracejo" e explicou que se ausentou para assistir à sessão pela televisão e melhor olhar nos "olhos" dos colegas.

“Na semana passada, diferentemente de hoje, me surpreende os senhores não me procurarem, nem citarem meu nome. Entenderam que, de fato, não mandam nessa nega aqui. Eu estava nesta Casa e a imprensa sabe que eu estava, assistindo do que Platão chama de mito da caverna, para poder olhar nos olhos de cada um. Porque os olhos refletem muito mais do que a boca não tem coragem de dizer”, afirmou.

“Eu não fui abduzida, deputado Marchezan [...]. Estamos aqui como julgadores e, como tais, a primeira função que deveria ter é a capacidade de olhar para dentro de si”, completou.

Presença confirmada
Tia Eron chegou ao plenário do Conselho de Ética nesta terça por volta das 14h20 e foi cumprimentada por aliados e adversários de Eduardo Cunha. Perguntada pelo G1 se já havia definido voto, ela afirmou: “Não acredito. Vocês já puseram voto para mim”. Questionada se participaria da votação, a deputada afirmou: “Se vocês me derem paz”.

Em seguida, ela foi abordada pelo advogado de Cunha, Marcelo Nobre, que trocou algumas palavras com a deputada e prestou “apoio” pela “pressão” dos últimos dias. A parlamentar apenas acenou a cabeça, enquanto segurava a mão do advogado.

Após registrar presença, a deputada disse que iria ao banheiro e teve de ser escoltada por seguranças

Disputa de suplentes
Diante da expectativa de que a deputada faltasse à reunião, deputados suplentes do Conselho de Ética chegaram cedo ao plenário para registrar presença e garantir direito à votação na sessão desta terça.

A disputa foi vencida pelo deputado Mandetta (DEM-MS), que é voto declarado a favor da cassação de Eduardo Cunha. Mesmo com a presença de Tia Eron, o parlamentar do DEM terá, portanto, direito de votar no processo por quebra de decoro do presidente afastado, no caso de ausência de titular do mesmo bloco partidário.

A votação do parecer de Marcos Rogério (DEM-RO), que recomenda a cassação de Cunha, está prevista para ocorrer nesta tarde. O registro de presença foi disputado, já que Mandetta e Carlos Marun (DPMDB-MS), que é forte aliado de Cunha, entraram ao mesmo tempo no plenário do conselho.

A identificação de presença é feita com a digitação de um número. Marun, Mandetta e o deputado Marcelo Aro (PHS-MG), que é adversário de Cunha, posicionaram os dedos quando a sessão estava perto de ser iniciada, mas o deputado do DEM conseguiu ter a presença identificada primeiro. Aro ficou em segundo lugar e Marun, em terceiro.

Cunha é acusado, no Conselho de Ética, de mentir à CPI da Petrobras quando disse, no ano passado, que não possuir contas bancárias no exterior. Posteriormente, ele foi denunciado pelo procurador-geral da República sob a acusação de usar contas na Suíça para ocultar propina de contratos com a Petrobras.

Fonte: g1-Brasília