SAÚDE

Vistoria em hospital referência na Rio 2016 vê lotação e remédio vencido.

Para sindicato, unidades de referência não estão prontas para os Jogos.

Em 08/07/2016 Referência JCC

Uma fiscalização do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) no Hospital Municipal Salgado Filho, considerado referência no esquema de atendimento aos cidadãos e turistas durante o período da Olimpíada, encontrou vários problemas.

O G1 teve acesso ao relatório e às fotos feitas pelos médicos, que mostraram macas em corredores, superlotação e até medicamentos fora da validade.

Na sala de trauma da unidade, foi constatada a falta de um tanque para a necessidade de higienização de ferimentos.

Superlotação
Na sala de observação vermelha, que recebe os pacientes mais graves, havia superlotação, segundo o Cremerj. De acordo com o relatório, há quatro leitos no local, mas dez pacientes estavam internados lá.

“Setor apresentando superlotação, com número de leitos e macas muito superior à sua capacidade instalada, no que tange a espaço físico e a equipamentos”, destaca o relatório do Cremerj. O documento enfatiza que o local não condições de receber mais pacientes.

Ainda na sala vermelha, chamou a atenção dos fiscais do Cremerj o fato de que um dos pacientes, que havia sofrido um enfarto agudo do miocárdio, estava no local sem monitoração dos sinais vitais, o que seria necessário para que os profissionais de saúde verificassem constantemente suas condições de saúde.

O local também não conta com equipamentos de reserva, caso algum que esteja sendo usado quebre. Foi constatada ainda dificuldade de acesso para que os profissionais de saúde levem ou tragam os carros de emergência, já que o ambiente está superlotado.

A situação na sala amarela também é grave, segundo o relatório. Havia mais que o triplo de pacientes que o local comparta. Para a capacidade de sete leitos masculinos e sete femininos, havia 25 homens e 22 mulheres. A maior parte destes pacientes estava instalada de modo inadequado.

“A maior parte dos pacientes está internada em macas de transporte, não adequadas para a permanência por um longo período de tempo, por risco de quedas”, ressalta o Cremerj no relatório.

Pacientes internados nos corredores, falta de equipamentos e excesso de trabalho para os profissionais de saúde também chamaram a atenção dos fiscais.

“Há pacientes internados no corredor da Emergência, aos cuidados da equipe da Sala Amarela, que apresenta evidente sobrecarga de trabalho, o que pode colocar em risco a qualidade da assistência prestada à população. No momento da visita de fiscalização, havia 7 mulheres e 10 homens distribuídos ao longo do corredor da unidade”, descreveram os fiscais, afirmando que o Salgado Filho não tem condições de receber mais pacientes.

Medicamentos vencidos
No setor semi-intensivo do hospital, os médicos testemunharam a morte de uma pessoa. Apesar do setor não contar com superlotação no momento da fiscalização, profissionais de saúde garantiram que o excesso de pacientes é rotineiro.

Os médicos constataram uma fragilidade na verificação dos prazos de validade dos medicamentos. Eles encontraram vários frascos de heparina vencidos.

Problemas na pediatria
A fiscalização no Hospital Salgado Filho também verificou problemas no setor de emergência pediátrica. Uma criança em estado grave, com quadro de choque térmico, não possuía uma manta ou ponto de luz para aquecê-la.

“No momento da fiscalização, presenciamos médicos prestando assistência a criança grave. Não existia foco ou manta térmica para aquecimento do paciente, que se apresentava grave, com critérios de sepse. O Hospital não dispõe de leitos de Terapia Intensiva Pediátrica”, constaram os fiscais.

Além disso, a fiscalização identificou seis crianças que permaneciam na sala de nebulização da unidade há quase 24 horas. Elas estavam acomodadas com seus responsáveis em um espaço pequeno e com falta de conforto, passando por tratamentos médicos ou aguardando uma vaga para serem internadas.

No almoxarifado, os fiscais do Cremerj encontraram estoque crítico de aventais descartáveis e cirúrgicos, coletores de urina, colchões e cateteres. Além disso, foi verificada a falta de monitores e cabos para a internação de pacientes, entre outros ítens.

“Durante a visita de fiscalização, foi possível identificar deficiência no número de equipamentos, materiais e insumos disponíveis. Com isso, há possível impacto na qualidade da assistência ao paciente e no ato médico”, destaca o documento.

A conclusão do documento apontou que o Hospital Salgado Filho possui deficiências sérias.

“Diante do exposto, conclui-se que as atuais condições de funcionamento do setor de emergência do Hospital Municipal Salgado Filho podem comprometer a qualidade da assistência médica prestada à população”, encerra o relatório.

Preocupação com treinamento
Em uma entrevista coletiva realizada nesta quinta-feira (7), o Sindicato dos Médicos do Estado dos Médicos do RJ e o Cremerj questionaram ainda o período de treinamento dos profissionais de saúde para atender à demanda da Olimpíada. Eles afirmam que os treinamentos começarão apenas no dia 31 de julho, sendo que o evento terá início em 5 de agosto.

"Vão ser reforçadas as equipes médicas com profissionais da própria rede, recebendo horas extras. Só que, em um caso de atendimento de múltiplas vítimas, precisamos de treinamento especial. De acordo com o diretor do Hospital Salgado Filho, o treinamento começa 31 de julho", comentou o vice-presidente do Cremerj, Nelson Nahom.

'Cidade está totalmente preparada', diz secretário
O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, informou em entrevista ao G1 que o Rio está preparado para as demandas de saúde que possam surgir durante a Olimpíada. Segundo ele, a cidade possui experiência na realização de eventos de maneira bem sucedida.

“A cidade está totalmente preparada e a Secretaria Municipal de Saúde tem experiência na preparação de eventos de massa, como o Pan, Jogos Mundiais Militares, a Jornada Mundial da Juventude, o Réveillon e o carnaval, por exemplo”, explicou Soranz.

O secretário afirmou que o plano para o evento foi elaborado com antecedência.

“Nosso plano de ação foi elaborado há quatro anos, em parceria com os poderes federal e estadual. Mais de 15 mil profissionais estão envolvidos”, enfatizou Soranz.

Sobre a necessidade de atendimento imediato, ele citou que postos de atendimento à população serão instalados em vários pontos da cidade e que as demandas da maioria dos visitantes será plenamente atendida porque é de baixa complexidade.

“A maioria dos problemas que os turistas têm geralmente é de baixa complexidade, e eles podem procurar as clínicas da família e centro municipais de saúde, com padrão internacional de atenção primária”, afirmou o secretário.

Sorans destacou ainda a reforma do parque tecnológico do Hospital Souza Aguiar e a criação de dois leitos de isolamento dentro do Hospital Miguel Couto como parte do esforço para garantir bom atendimento de saúde durante a Olimpíada.

Daniel Soranz destacou também que foram construídas mais de 150 novas unidades de saúde entre 2008 e 2016, o que dobrou a capacidade da cidade neste período e que o município investe 20% de seu orçamento em saúde.

g1/Rio de Janeiro