SAÚDE

A falta de informação dos pais pode comprometer a saúde

O sarampo costuma ser encarada como algo leve, típica da infância. Só que não!

Em 23/07/2018 Referência JCC, Cilene Pereira

Os riscos de não vacinar. Até quarta-feira 18, o Brasil registrou 677 casos de sarampo. A doença costuma ser encarada como algo leve, típica da infância, sem maiores consequências e, desta forma, aceitável. Está errado pensar assim.

A volta dos casos ao País representa uma derrota no âmbito da saúde pública. A enfermidade estava erradicada aqui desde 2016, graças a uma política de vacinação bem-sucedida que até então havia garantido a proteção de crianças e adultos contra o vírus responsável pela doença. Somada à informação de que 312 cidades brasileiras — 44 em São Paulo, o estado mais rico da nação — encontram-se sob risco para o aparecimento de casos de poliomielite, a situação traça um panorama preocupante.

A polio está erradicada no Brasil desde 1990 e, assim como o sarampo, é prevenível por vacina. Ambos os imunizantes estão disponíveis gratuitamente na rede pública de saúde e apresentam riscos baixíssimos de causarem efeitos colaterais mais sérios. Não é admissível, portanto, que o Brasil depare-se agora com a ameaça de ver a volta de doenças contra as quais a medicina obteve uma de suas principais vitórias.

Foi em 1796 que o médico inglês Edward Jenner descobriu que inocular pessoas com o conteúdo tirado de pústulas de varíola assegurava imunização contra o vírus causador da enfermidade que, àquela altura, matava milhares de pessoas. Desde então, as vacinas servem para impedir que males assim dizimem populações.

No entanto, desde 2011 observa-se no Brasil a queda na cobertura vacinal relativa a várias enfermidades. Naquele ano, o índice de crianças vacinadas com a tríplice viral, que imuniza contra o sarampo, a caxumba e a rubéola, alcançou 100%. Em 2017, parou nos 83%. Neste ano, há um esforço de vacinação em Roraima, numa tentativa de evitar a disseminação do vírus trazido com a chegada maciça de crianças venezuelanas infectadas.

A cobertura relativa à polio também era total no início da década. No ano passado, ficou em 77%. Em 15% das cidades da Bahia, menos da metade das crianças foi vacinada. Ao todo, 800 mil crianças estão vulneráveis à infecção.

O País patina ainda na prevenção de doenças como a febre amarela e a gripe, as duas também evitadas por meio de vacinas. A forma urbana da febre amarela está erradicada desde 1942, mas os casos silvestres (em áreas de matas) avançaram nos últimos anos. Entre julho de 2017 e maio de 2018, foram 1.266.

pessoas atingidas, com 415 óbitos. No início do ano, com a explosão do surto no Sudeste, o pânico tomou conta da população e postos de saúde foram invadidos por pessoas desesperadas pela vacina. Semanas depois, a notícia de mortes por causa de reações ao imunizante fez com que o medo se instalasse, desta vez ao contrário. Mesmo pessoas que precisariam ser imunizadas por viver em áreas de risco pararam de buscar a proteção. O resultado é que, hoje, a cobertura vacinal de febre amarela mal passa da metade, com índice de 52,45%.

Quanto à gripe, o Ministério da Saúde conseguiu atingir, na semana passada, cobertura para 90% do grupo prioritário, formado por pessoas a partir de 60 anos, crianças de seis meses a cinco anos, trabalhadores de saúde, professores das redes pública e privada, povos indígenas, gestantes, mães até 45 dias após o parto, detentos e funcionários do sistema prisional. Porém, entre as grávidas e os com menos de cinco anos, a cobertura foi de 77% e 76%, respectivamente. Os estados com menores taxas de vacinação foram Roraima (67%) e Rio de Janeiro (77%) . Enquanto isso, o total de óbitos subiu de 285, no ano passado, para 839 em 2018.

Foto: Divulgação - Revista Istoé dinheiro