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Após vaia e beijo gay, Cunha diz não ter ido a SP para discutir costumes.

Presidente da Câmara foi alvo de protesto de grupo anti-homofobia.

Em 27/03/2015 Referência JCC

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou nesta sexta-feira (27), após ser alvo de protesto de um grupo anti-homofobia na Assembleia Legislativa de São Paulo, que ele não foi ao Legislativo paulista para "discutir costumes". Em uma audiência pública realizada na manhã desta sexta na Assembleia, Cunha foi vaiado por cerca de 50 manifestantes que o acusaram de "corrupto" e "homofóbico".

Em meio à execução do Hino Nacional, na abertura da audiência pública, dois manifestantes homossexuais se beijaram diante do presidente da Câmara, que é evangélico e já se posicionou contra a criminalização da homofobia.

Os dois homens ergueram um cartaz com uma mensagem que pedia a saída de Cunha do comando do Legislativo e o chamava de "homofóbico".

"Não estou aqui [Assembleia de São Paulo] para discutir costumes. Estou aqui para representar o Poder Legislativo. Eu, obviamente, não concordo com a observação que está sendo colocada, mas eu não estou aqui para discutir como pessoa", disse Cunha em uma entrevista coletiva concedida ao final do evento.

 

No início da audiência pública, no momento em que Cunha começou a discursar, os manifestantes começaram a gritar no plenário "Machistas, fascistas, não passarão! Fora, Cunha!".

Um dos manifestantes invadiu o plenário durante o tumulto e foi retirado por seguranças. Além de pedir o fim da homofobia, as pessoas que vaiavam o peemedebista também solicitavam "Constituinte já" e financiamento público para campanhas eleitorais.

Na conversa com jornalistas ao final do evento, Eduardo Cunha defendeu o direito de os manifestantes protestarem, porém, disse que a democracia exige "ordem". Segundo o peemedebistas, as pessoas que promoveram o protesto haviam sido escaladas para "hostilizar".

"Acho que todo mundo pode se manifestar, mas existe o direito de falar e ser ouvido. Dentro da democracia, da ordem", afirmou.

"Não precisa impedir o direito dos outros de falar. Ali não eram pessoas que queriam participar de uma audiência pública. Ali eram pessoas escaladas para fazer movimento político. De hostilizar. Ali não haveria debate, ali há guerra, política", enfatizou.

Expulsão dos manifestantes
Diante dos gritos de ordem que ecoavam no plenário enquanto Eduardo Cunha tentava discursar, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Fernando Capez (PSDB-SP), determinou a suspensão da sessão e o esvaziamento do plenário por policiais militares. A sessão foi retomada cerca de 10 minutos depois, sem a presença de manifestantes. Com as galerias vazias, Cunha retomou o discurso.

“O parlamento pressupõe o debate com aqueles que querem se manifestar livremente. Aqueles que não querem debater vão impedir que o debate seja feito”, declarou Cunha após o reinício da sessão.

"Nós viemos com toda a humildade, num programa muito importante da Câmara dos Deputados para debater com aqueles que querem debater, que podem livremente, dentro das audiências, se manifestar, trazer suas sugestões, criticar-nos por qualquer posição que venhamos a tomar, mas isso faz parte da democracia. A maioria quer debater", complementou o peemedebista, sendo aplaudido pelos deputados que ocupavam o plenário.

Com o fim do tumulto, o presidente da Assembleia Legislativa determinou que as galerias fossem reabertas para que o público pudesse acompanhar o evento. Ele ressalvou, porém, que a presença das pessoas só seria permitida desde que as pessoas respeitassem o regimento interno e não se manifestassem durante o discurso dos deputados.

A audiência pública desta sexta-feira é a segunda edição do programa "Câmara Itinerante", que pretende levar a Câmara dos Deputados até as assembleias legislativas de diferentes regiões do país. A justificativa para o deslocamento do Legislativo é de que os parlamentares precisam ouvir as necessidades locais. Na etapa de São Paulo, o presidente da Câmara propôs um debate sobre reforma política, pacto federativo e crise hídrica.

Crítica na Câmara
No momento em que a direção da Assembleia paulista suspendeu a sessão para retirar os manifestantes do plenário, o deputado federal Marcos Rogério (PDT-RO) – aliado de Eduardo Cunha – discursou no plenário da Câmara, em Brasília, para criticar o protesto contra o presidente da Casa. Segundo ele, a manifestação contra Cunha na capital paulista teria sido promovido por "grupos organizados".

"Me preocupa esse cenário político atual em que grupos organizados mobilizados para determinar intolerância a segmentos da política nacional. Ali [na Assembleia de São Paulo] me pareceu uma coisa muito bem engendrada para que a audiência pública não prosseguisse. [...] Presenciei do meu gabinete, pela TV Câmara, uma cena incompatível com o ambiente que estavam os parlamentares presentes naquele local", enfatizou.

Constituinte e reforma política
Após o evento na Assembleia paulista, o presidente da Câmara conversou com jornalistas. Ele comentou a reivindicação dos manifestantes por uma Constituinte e disse que a ideia  é defendida por uma "minoria".  " Sou frontalmente contrário", afirmou.

Ele disse ainda que as questões relativas à reforma política serão decididas pelo Congresso. "Eu acho que a maioria da Casa não quer o financiamento público e voto em lista, mas essa votação, o debate, pode permitir o convencimento ou não."

Crise política
Cunha também respondeu sobre a relação com o Palácio do Planalto. O presidente da Câmara, apesar de ser de um partido que compõe a base aliada, tem dificultado aprovação de projetos de interesse do governo.

Questionado sobre o tema, ele disse que o governo deve aprender a fazer "política correta" com os aliados.

"Nós temos que ajudar o governo na sua governabilidade, nós temos que ajudar o governo no seu ajuste fiscal, nós temos que aprovar medidas que sejam importantes para a contenção dos gastos públicos", disse."Mas ao mesmo tempo temos que debater os pontos políticos. E o governo tem que aprender, através dos seus representantes na articulação política, a fazer a política correta com aqueles que querem ter como seus aliados."

Cunha voltou a criticar uma tentativa de recriação do Partido Liberal. Políticos contrários à ideia dizem que a iniciativa parte do ministro das Cidades, GIlberto Kassab (PSD), apoiado pelo Palácio do Planalto. Segundo esses políticos, o PL seria fundido ao PSD e criaria uma base de apoio ao governo que dependeria menos de aliados como o PMDB.

"Já critiquei publicamente essa situação do partido que está sendo criada tentando diminuir o papel de partidos existentes dentro da base aliada, tentando enfraquecer esses partidos. Isso agravou a crise política", afirmou Cunha.

Ele finalizou criticando a criação de "qualquer partido que seja criado debaixo de uma máquina pública, com interesse político". "Isso prejudica. Não vamos discutir reforma política criando partido fictício. O governo querer ter uma base aliada a ele não é ajudar com a máquina pública a criar partidos para tirar parlamentares de partidos aliados, e promover o dilaceramento dos partidos políticos gravitando em torno do apoiamento ao governo", complementou.

Fonte: G1