SAÚDE

Baiana diz que descobriu câncer de mama após bariátrica

Nilza Batista, de 47 anos, descobriu câncer após bariátrica e conseguiu se curar.

Em 14/10/2017 Referência JCC, Alan Tiago Alves - G1/BA

A agricultora baiana Nilza Batista, de 47 anos, tomava um banho em casa quando percebeu algo estranho em um um dos seios. Era um pequeno nódulo que indicava um câncer de mama que a fez iniciar uma "grande batalha". Após meses de tratamento, depois de a vida ter dado uma reviravolta, Nilza conseguiu vencer a luta contra a doença e sua história hoje serve de inspiração para outras mulheres que passam pelo mesmo problema.

Natural de Caculé, na região sudoeste da Bahia, ela conta que descobriu a doença pouco tempo depois de ter feito uma cirurgia bariátrica, em 2012. "Quando eu fiz a cirurgia de redução de estômago, eu emagreci muito. Em dez meses, perdi 48 quilos. Depois de um procedimento desses, a mama fica flácida e fica mais fácil descobrir qualquer alteração nos seios", destaca.

O câncer de mama

O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum entre as mulheres do Brasil e do mundo, respondendo por cerca de 28% dos casos novos a cada ano, conforme o Instituto Nacional do Câncer (Inca).

Não há uma causa única para o desenvolvimento da doença. Diversos fatores estão relacionados, como idade, fatores endócrinos, fatores comportamentais/ambientais e fatores genéticos/hereditários. É relativamente raro antes dos 35 anos, porém acima desta idade, sua incidência cresce progressivamente, especialmente após os 50 anos. A doença também acomete homens, porém é raro, representando apenas 1% do total de casos da doença.

Antes dela, uma irmã que hoje tem 52 anos, também teve câncer de mama, aos 34, e, assim como Nilza, conseguiu se curar.

"A minha família entrou em choque quando soube. Começou todo mundo a chorar, sobretudo meu pai e minha mãe. Já era o segundo caso na família. Eu me paralisei, não tive reação. Eu tinha um cabelo grande e bonito, mas, depois da minha primeira quimioterapia, já mandei raspar porque caía muito. Aliás, a pior coisa é a reação da quimioterapia: a gente entra no hospital andando e sai em uma cadeira de rodas", destacou.

"Foi bem difícil a luta contra o câncer, mas sempre tive fé de que iria ser curada".

Até se ver livre da doença, no entanto, Nilza conta que a batalha não foi nada fácil. A baiana diz que teve que largar o trabalho para lutar contra a doença, eliminada somente após uma cirurgia para retirada de um quarto da mama esquerda, onde estava o tumor.

"Na época, eu trabalhava muito porque minha filha estudava em Minas Gerais. Separada do meu marido, eu tinha um restaurante e trabalhava quase 24h para manter minha filha lá. Depois do câncer, no entanto, fiquei um bom tempo parada. Por incrível que pareça, Deus me deu muita força. Fiz todo o meu tratamento em [Vitória da] Conquista mesmo, fiz a cirurgia e hoje estou curada", celebra.

Já livre do câncer, a baiana fez a reconstrução da mama em setembro de 2016. Vive ainda, no entanto, com remédios em meio à rotina.

"Tenho que tomar um medicamento todos os dias. Além disso, tomo injeção de três em três meses e vai ser assim durante dez anos. Agora em outubro, vai fazer cinco anos que comecei a tomar o remédio. Também faço exames anuais, mamografia, ressonância, cintilografia óssea, ultrassom mamária. Tudo para evitar que o câncer volte", conta.

Informações sobre a doença

Na mesma época em que descobriu o câncer, Nilza diz que passou a correr atrás de informações sobre a doença. Foi quando descobriu a existência do grupo "Mulheres de peito", criado em São Paulo para possibilitar que vítimas de câncer de mama se reúnam, troquem experiências e, acima de tudo, apoio.

Nilza foi a primeira baiana a integrar o grupo, idealizado em 2011 pela médica pneumologista Marina de Loureiro Maior, que também teve câncer de mama. A médica, a princípio, decidiu criar um blog para falar sobre o tratamento, mas depois conheceu outras jovens que passavam pelo mesmo problema e decidiu criar um grupo fechado no Facebook, que hoje conta com mais de três mil pessoas.

O grupo, composto também por mulheres com outros tipos de câncer, passou a realizar encontros anuais em estados diferentes do país para promover interação entre as mulheres integrantes. O grupo não tem qualquer vínculo com empresas privadas ou entidades governamentais.

Nos encontros, que reúnem mais de 150 participantes, as mulheres têm liberdade para falar sobre o tratamento, compartilhar dúvidas sobre quimioterapia, efeitos dos tratamentos, comemorar resultados de exames, trocar dicas de maquiagem, lenço, perucas, cremes e outros “segredinhos” que ajudam a elevar a autoestima e driblar os efeitos colaterais das medicações.

O projeto

O projeto visa ainda ampliar o diálogo entre familiares e pacientes através de sites, campanhas e palestras. O site Meninas de Peito é colaborativo e parte do conteúdo é criado por pacientes ou ex-pacientes que realmente conviveram com o câncer. É também por meio da página na internet, ou pelo perfil no Facebook que mulheres com câncer podem solicitar a participação no grupo.

"Na época em que eu descobri, esse grupo já existia no Facebook e as meninas já realizavam eventos. Naquela época, no entanto, não tinham tantas meninas como hoje. O encontro só ocorria em São Paulo e depois, com a chegada de novas mulheres ao grupo, as atividades foram se expandido para outros estados, como Rio de Janeiro e Goiás. Hoje, o encontro das meninas de peito é nacional. Eu digo que a necesssidade faz a gente correr atrás de mais conmehcimento das coisas. Eu tinha uma amiga que conhecia o grupo e me aconselhou a entrar", destacou.

 Encontro do grupo em Goiânia (Foto: Divulgação)

Encontro do grupo em Goiânia (Foto: Divulgação)

O 10º encontro do grupo está previsto para ocorrer pela primeira vez na Bahia, em um espaço de eventos na cidade de Lauro de Freitas, região metropolitana de Salvador, no dia 28 de outubro, e está sendo organizado pela baiana.

O evento não é aberto ao público e pretende reunir apenas as mulheres da equipe e convidados delas. Conforme Nilza, será um dia inteiro de atividades. "Vamos ter café da manhã, lanche, oficinas de turbante, massagista, palestras com médicos oncologistas, atividades teatrais, musicais. No evento, também vamos ter testemunhos de pessoas que já estiveram à beira da morte e que se curaram", destaca.

Nilza não esconde a alegria de integrar a equipe e destaca a importância do grupo para a sua recuperação.

"Sobretudo no início, foi muito importante. Minha família não entendia muito o que estava acontecendo e elas [as meninas do grupo] sempre me entenderam porque vivemos a mesma situação. No grupo, a gente acolhe e uma dá força para a outra. Hoje, procuro tratar as pessoas que estão chegando da mesma forma como me trataram, com muito carinho e atenção. Esse grupo é nacional e futuramente pretendo organizar um grupo estadual. Na verdade, já iniciei a criação desse grupo aqui na Bahia, que vai se chamar 'Meninas do Abraço'. Coloquei a palavra abraço no nome porque significa acolhimento", afirma.

Após a batalha, Nilza compartilha que fica a experiência e a vontade de viver cada vez mais. "A gente, de vez em quando, nao dá tanto valor para a vida. Somente depois que passamos por situações como essa é que passamos a enxergar as coisas de uma outra forma. Hoje, ando com minha filha e curto cada momento, tiro fotos e fico com uma alegria imensa de registrar esses momentos. Hoje, posso dizer que estou bem e isso é uma conquista da vida".

(Foto: Arquivo pessoal)