CIDADE

Prefeitura autoriza volta de algumas famílias ao Morro da Boa Vista.

Laudo da Defesa Civil delimitou uma área de risco menor que a anterior.

Em 05/02/2016 Referência JCC

“Nunca imaginei parar em um abrigo. Você luta tanto para ter uma casa e de repente perde tudo e vai parar dentro de uma escola com marido e criança, é muito difícil”, disse a moradora Jéssica Silva, de 24 anos. Ela e outras famílias inteiras estão morando em uma escola há 35 dias, após uma pedra gigante rolar do alto do Morro da Boa Vista, em São Torquato, em Vila Velha.

A Defesa Civil Estadual avaliou a área de risco e emitiu um novo laudo, nesta quinta-feira (4), delimitando uma área menor e liberou algumas casas para que os moradores pudessem voltar.

A pedra rolou após um deslizamento de terra, no dia 1º de janeiro. A informação da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) é que cinco feridos foram atendidos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e pelo Corpo de Bombeiros, além de outras 10 pessoas socorridas por moradores, com ferimentos leves. Não houve desaparecidos, nem mortos. Etretanto, muitas famílias tiveram que deixar as casas por risco de novos deslizamentos.

Nesta quarta-feira (3), o G1 esteve no abrigo onde, aproximadamente, 20 famílias estiveram neste tempo.

A reportagem só foi autorizada pela prefeitura a mostrar áreas comuns. A equipe não pôde mostrar onde as famílias dormiam para, segundo a prefeitura, preservar a privacidade e dignidade dessas pessoas. 

Nesta quinta-feira (4), seis famílias receberam um documento da Defesa Civil informando que algumas casas não estavam mais em área de risco e que poderiam voltar para o morro da Boa Vista.

Além disso, outras três família foram incluídas no aluguel social. Ao todo 20 famílias, vítimas da pedra que rolou, vão receber o benefício. A previsão do Secretaria de Segurança é de que até a sexta-feira (12) o abrigo seja desocupado.

Vítimas
Para Lucilene Mariana, de 42 anos, a situação não é boa. “As autoridades competentes deveriam olhar melhor para as pessoas que estão aqui com mais carinho. Não temos respostas. Só o fato da gente sair da casa da gente para estar aqui não é bom, chega aqui dentro é pior ainda.  Aluguel social está só na promessa e a gente fica no jejum e oração”, disse.

Jéssica Souza tem 24 anos e quatro filhos. Ela espera o mais rápido sair do abrigo.

“O dia a dia é complicado porque morar com gente que você nunca viu não é fácil e com criança fica ainda mais difícil. A gente vai vivendo um dia após o outro. Eu não quero voltar para casa com quatro crianças correndo riscos, quero voltar para casa com segurança. Nunca imaginei parar em um abrigo”, disse.

A filha mais nova de Josiane Cruz Rocha tem dois meses. Bruna  foi para o abrigo com um mês de vida. “Vou esperar em Deus, só ele para dar uma solução. Mãe nenhuma queria estar nesse lugar. Estamos aqui por que não temos outra saída”, relatou Josiane.

Mônica Santos Dias, de 30 anos, disse que  teme em voltar para casa e a pedra rolar novamente.

“A nossa situação é precária e não temos respostas. A gente não pode subir, temos medo de pedra rolar de novo. Aqui no abrigo o calor é infernal. É horrível você dormir embolado junto com os outros. A gente só quer uma resposta. Esperança é a ultima que morre, mas a minha já acabou”, disse Mônica.

De tantos depoimentos, o de Maria Consolo emociona. Ela vai comemorar o aniversário, nesta sexta-feira (5), dentro do abrigo.

“Fazer o quê? Vou ficar aqui e não posso fazer nada. Tem hora que dá vontade de chorar de tanta tristeza. A casa da gente é melhor do que ficar no lugar como esse. Coisa que eu nunca passei na minha vida era morar num abrigo”, relatou emocionada.

Obras
A prefeitura informou que os trabalhos de contenção continuam. Um muro de impacto de 16m de largura por 5m de altura está sendo construído para conter as pedras menores em caso de deslizamento.

Já foi concluída a amarração com cabos de aço da rocha localizada no topo e foram iniciados os trabalhos de contenção daquela pedra que havia se desprendido e acabou rolando.

Os funcionários tem contado com a ajuda de um teleférico que carrega areia, brita e cimento. Lá em cima, a obra de contenção não para.

Nesta sexta-feira (5) o coronel Ramalho conversou com a reportagem sobre a situação do abrigo e das obras no morro.

Confira a entrevista:

Garantia de retorno
"Desde a semana do ocorrido, a prefeitura tem feito intervenções de engenharia, contratou uma empresa, e as obras começaram. Passado um mês, nós solicitamos aos engenheiros da Defesa Civil Estadual que retornassem ao local e avaliassem a área de risco. Eles emitiram um novo laudo delimitando uma área menor, tendo em vista as intervenções já realizadas, e isso nos dá a garantia, com esse laudo, esse conhecimento técnico, de falar para as pessoas que estão fora da área de risco que podem retornar".

Aluguel social
"Paralelo a isso, as pessoas que estão na área de risco, nós estamos convidando a comparecer na Defesa Civil para que possam preencher toda a documentação e fazer jus ao aluguel social. Aquelas que tiveram suas casas completamente ou parcialmente destruídas já foram inseridas no aluguel social, num total de 17 famílias.

Todos acharam que fariam jus ao aluguel social, mas essa não é a verdade. Nós temos que prezar o dinheiro público, nós somos fiscalizados por órgãos externos e temos todo o cuidado para fazer o pagamento desse aluguel dentro de um laudo emitido por pessoa conhecedora, técnica do assunto, que é um engenheiro da Defesa Civil Estadual".

Obras no morro
"Estamos amarrando a pedra maior com tirantes de cabo de aço; escorando a pedra que ficou parada no meio do morro com vigas, colunas reforçadas com ferro, com aço; estamos fazendo muro de contenção, escadas hidráulicas, destruindo aquela quantidade de pedra que se quebrou e ficou pelo caminho".

Desocupação do abrigo
"Não temos pressa em acabar com o abrigo, estamos atendendo às famílias. Mas diante do laudo [emitido pela Defesa Civil, que comprova a segurança das casas] não tem porquê as famílias ficarem no abrigo ou quem está dentro da área de risco não receber o aluguel social. Então estamos fazendo essa nova triagem. Quem está dentro da área de risco, faz jus ao aluguel social, e quem está fora retorna para sua residência".

Fonte: G1